On segunda-feira, 19 de julho de 2010


Em seu excelente livro "A Heresia dos Índios", o historiador Ronaldo Vainfas cunhou o termo batismo às avessas para definir um dos rituais adotados pelos índios Tupinambá (é no singular e com letra maíuscula mesmo, conforme recomendação da REVISTA BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA, São Paulo: 1953 para os etnômios) no recôncavo baiano no século XVI dentro das suas cerimônias de "santidade" ou idoloatria. Tal ritual, dentre outros, caracterizava o que esse historiador chamaria de "hibridismo" cultural, uma alternativa teórica para o que comumente chama-se de sincretismo.

Apesar de usarem de símbolos e gestos cristãos durante as cerimônias, o batismo às avessas funcionava como uma anulação do batismo cristão efetuado pelos padres aos índios, que fora feito principalmente dentro dos aldeamentos jesuítas. Acusavam os índios de o batismo ser o causador de tantas mortes dentre eles, pois alguns morriam dias após serem batizados. Como uma forma de resistência e assimilação desse nova cultura além-mar, essa "santidade" de Jaguaripe é tratada dentro de um arcabouço acadêmico muito bem trabalhado por Vainfas, vale conferir.

E o que temos 500 anos depois no mesmo continente? Um "desbatismo" similar àquele dos Tupinambá dos primeiros séculos após a invasão lusitana. A fonte é do O Globo com referência a um programa da ABC exibida no dia 17/06 no programa americano Nighline.

O senhor da foto (Edwin Kagin) usa um secador como forma de simbolizar a evaporação da água do batismo daqueles que outrora foram batizados. Muito interessante como os signos fazem parte desse ritual, mesmo que por ironia desse senhor ateu, o que não ocorria com os Tupinambá. A água que aqui é 'evaporada' pelo secador, antes era 'sugada'  e 'cuspida' (também de forma simbólica).

No entanto, a motivação nesse contexto é outra. Antes de um 'sincretismo' é uma negação do cristianismo em toda a sua essência moral e filosófica no que concerne ao batismo de crianças. É uma postura atéia diante de um ritual cristão.

Edwin Kagin, responsável pelo "desbatismo", disse acreditar que os pais cometem um grande erro ao deixar as crianças serem batizadas sem que elas tenham idade para entender o que está se passando. O líder ateísta, criado em família presbiteriana, chega a afirmar que alguns casos de educação religiosa deveriam ser punidos por "abuso infantil". Ele classifica a sua "anticruzada" como uma "guerra civil religiosa americana". Formado em Direito, ele percorre os EUA defendendo suas ideias.

Em nome do Tupã, do Kurupira, e do Anhangá, amém!

Camisas Vero

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