O Papa Bento XVI advertiu nesta quinta-feira (16) contra as "formas agressivas de secularismo" no Reino Unido, no primeiro discurso de sua visita de Estado ao país. O pontífice falou no palácio de Holyroodhouse, residência oficial da Rainha Elizabeth II em Edimburgo, na Escócia.
"Hoje, o Reino Unido se esforça em ser uma sociedade moderna e multicultural", disse. "Nessa empreitada exigente, espero que possa manter seu respeito pelos valores tradicionais e as expressões culturais que formas mais agressivas de secularismo hoje já não valorizam ou inclusive toleram."
"Não deixemos que ofusque o fundamento cristão que sustenta suas liberdades", acrescentou Bento XVI falando para a rainha, que o recebeu oficialmente no início de sua visita.
A rainha Elizabeth II retribuiu destacando a influência da Igreja Católica na solução do conflito norte-irlandês e sua contribuição à paz mundial.
Antes, em uma das primeiras declarações em território britânico, o pontífice admitiu que a “Igreja não foi suficientemente vigilante” na questão da pedofilia.
Numa de suas declarações mais incisivas já feitas sobre o tema, o pontífice disse a jornalistas no avião que o levou à Escócia que se sentia chocado com a "perversão" do clero.
"Essas revelações foram um choque para mim, uma grande tristeza. É difícil entender como essa perversão no ministério clerical foi possível", afirmou. "É também uma grande tristeza que a autoridade da Igreja não tenha sido suficientemente vigilante e não (tenha sido) suficientemente rápida e decidida para tomar as medidas necessárias", acrescentou.
A visita está sendo marcada também por comentários feitos na véspera por um assessor do Vaticano, que comparou a Inglaterra a um país do Terceiro Mundo.
O papa tem de manter um delicado equilíbrio nas suas relações com a Igreja da Inglaterra (Anglicana), depois de propor, em outubro passado, que fossem facilitadas as regras para a conversão ao catolicismo de anglicanos insatisfeitos com a ordenação de mulheres no clero e a nomeação de homossexuais como bispos.
O papa foi recebido pela rainha Elizabeth II com honras de Estado em Edimburgo e à tarde celebrará missa campal em Glasgow. Milhares de lugares continuam disponíveis, e a polícia estima que um terço do parque ficará vazio.
Mesmo assim, muitos católicos se dizem animados com a visita. "Acho um privilégio que o papa esteja na Escócia", disse a vitrinista aposentada Teresia McFarlene, 65 anos, que esperava a chegada de Bento XVI no centro de Edimburgo.
Já Frances, uma fiel de 70 anos, aposentada dos trabalhos voluntários, disse que a Igreja deveria ter se empenhado mais contra as acusações de pedofilia do clero. "Ela já passou por cismas no passado, está sendo atacada agora, mas não irá submergir", afirmou.
O Vaticano minimizou as declarações do cardeal Walter Kasper a uma revista alemã, a "Focus", em que ele comparou a Inglaterra a um país de Terceiro Mundo, e sugeriu se tratar de uma terra de ateus agressivos.
Kasper, recém-aposentado como chefe da Congregação para a Unidade Cristã -- o departamento do Vaticano responsável pelo diálogo com os anglicanos --, deveria ter acompanhado o papa na visita, mas o Vaticano informou que ele se ausentaria por razões de saúde.
------