On sábado, 7 de agosto de 2010


Um dia no orkut ao reclamar de cristãos querendo me evangelizar, um amigo meu, me indicou este texto no qual ele tinha escrito em seu blog, o texto é excelente, de conteúdo filosófico o autor nos faz relfletir sobre a ideia de deus que está tão incutida em nossa atual sociedade, discorrendo pelas formas de nomeclaturas até chegar ao nome deus. Para complementar deixo um verso da música "Sem Palavras" da banda "Móveis Coloniais de Acaju" que diz: "Dá raiva da vida, nada existe sem classificar". No mais, o texto fala por si só...

Ábia Costa


Quando Nietzsche afirmou que Deus estava morto, ele certamente causou a perplexidade e, por quê não, a revolta em milhares de almas que se dedicavam diariamente a propagar o contrário. O curioso é que a frase "Gott ist tot" – no original - continua assombrando e indignando muita gente. O problema é que somos muito bons em prestar atenção no emblemático e não entendemos o alegórico.

Tudo o que existe tem um nome. Até o que não pode ser visto ou caracterizado com precisão recebe definições. E damos nomes com muita naturalidade, como quem acredita piamente que o seu papel no mundo é nomear. O homem sempre quer ter um papel claro e objetivo em tudo o que se envolve, então geralmente importa ser e, quando não, saber quem foi o primeiro a distribuir alcunhas, pois o nome – que pode ser atribuído à alguém ou à alguma coisa por diversos motivos – ganha status de oficialidade. O homem gosta de chamar tudo pelo nome. Será? Pelo menos se sente mais confortável fazendo isso. Dar nomes é assunto muito sério no mundo dos homens. Em alguns casos requer, inclusive, a adoção de práticas jurídicas para legitimar o feito. Mas, acreditem, dar nomes não é apenas um artificio legal, é também um direito sagrado. Pelo menos para os homens literais que embalam suas Bíblias todos os dias antes de dormir. Está lá, no livro primeiro, em tom profético, “e o nome que o homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu nome”. Curiosidade boba: quem deu a Deus o nome de Deus?

Talvez no Éden, essa coisa do homem dar nomes e não se complicar com isso tenha funcionado perfeitamente. A questão é que já não vivemos no Éden. Então, e no caso de se discordar do homem que nomeou o que gostaríamos de chamar por outro nome? Desde quando nesse mundo um fala por todos? E, no fim das contas, não teríamos todos o mesmo direito de nomear? E se num belo dia eu acordar e quiser chamar o sol de qualquer outra coisa que não seja sol? Eu sei, vão dizer que isso não muda os fatos e que ele continuará sendo sol independentemente do meu querer. Pois bem, esse é o ponto. O nome sol não é um fato, é só um nome. Recorrente porque assim o tornamos. Então, parafraseando o mestre Paulo Freire, refaço aqui a minha
curiosidade ingênua e a transformo em curiosidade epistemológica: Quem disse que Deus é Deus?

Algumas pessoas estão prontas para difamar e insultar Nietzsche simplesmente por que ele tratou o nome como nome. No entanto, o mais interessante de tudo é que essas pessoas fazem a mesma coisa, tratando o seu Deus como mero substantivo capaz de ser caracterizado e definido. Para elas e para mim escreveu Rubem Alves:
“Palavras são gaiolas. O falado é aquilo que a razão engaiola. Um Deus que pode ser engaiolado por palavras não é Deus. Deus é um “Passáro Encantado”. Para ele não há palavras”.

Créditos da Imagem: Mario Gruber/Mão/Óleo sobre tela/1983

Texto retirado do blog Olhares Refletidos

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