On domingo, 15 de agosto de 2010

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Uma característica intrigante da Bíblia são suas profecias, sem elas este livro cairia no esquecimento. É comum ouvir dizer que “as profecias estão se cumprindo” a cada fato de repercussão mundial. Quais os mecanismos que as tornam reais ou, pelo menos, aparentemente cumpridas?

A principal diferença do ser humano para outros animais é sua capacidade de entender o presente e dar prognóstico do futuro através da coleta de dados do passado. Prever a vinda das estações do ano, a passagem de cometas, se vai ou não chover, são alguns exemplos da capacidade de previsão humana. A grande quantidade de neurônios e sua organização singular no cérebro torna o homem capaz de processar, reprocessar, armazenar e registrar conclusões que venham a se cumprir durante a sua própria vida ou até em gerações posteriores. Embora as previsões bíblicas pareçam mais complexas que as deduções cotidianas, não são diferentes quanto à construção. Segue os cinco pilares das profecias bíblicas.



I – Indução Psicológica

Joana D’Arc, por exemplo, baseou sua vida em uma profecia sobre uma jovem que libertaria a França do domínio inglês. Jesus, assim como outras dezenas de homens, teve sua vida fortemente influenciada pelas profecias que ouvia. Há registros que, sob opressão romana, dezenas de homens se levantaram nos tempos neotestamentários acreditando serem o messias previsto nas escrituras hebraicas. Além de Jesus a própria Bíblia cita o nome de mais dois homens que acreditavam ser o messias (Atos 5.34-37). Possivelmente sobre a vida e morte de um deles foram adaptados os contos populares e da mitologia grega que deram origem ao mito Jesus Cristo. Observe que o mesmo tipo de indução pode ocorrer no ambiente familiar. Nada mais comum que filhos se tornando o que os pais previam ou desejavam – médico, engenheiro, etc. – sem que tais previsões sejam consideradas sobrenaturais. Profecias cumpridas, acerca do surgimento de heróis e salvadores, são induções psicológicas sobre pessoas que fazem um desejo coletivo tornar-se realidade de forma natural ou artificial, nunca divina.

II – Simbolismo

O simbolismo é uma forte característica da literatura bíblica, o que permite a uma única previsão ser facilmente adaptável a várias situações reais. Um exemplo é o número 666, o número da besta profetizada em Apocalipse, que pode ser adaptável não só ao Papa, o principal “suspeito”, mas a diversas autoridades tanto religiosas quanto políticas, como os antigos presidentes americanos George Bush e seu filho, o W. Bush e para fundadores de igrejas como a Ellen White, do Adventismo. Em Apocalipse 18.13 a Bíblia diz que se requer sabedoria e cálculo para se chegar ao número da besta que é o número de um homem. A forma clássica de descobrir o número da besta é encontrar algarismos romanos no nome ou título dado a pessoa e fazer cálculos que cheguem ao número 666. Mas para infelicidade dos que creem, milhares de pessoas anônimas podem ter este número deduzido de seu nome. Citemos o exemplo de um nome comum: Demétrio Xícharo Silva. Dele extraem-se os seguintes algarismos romanos: D=500, C=100, L=50, X=10, V=5, I=1, I=1 e I=1. Depois se faz o cálculo: 500+100+50+10+5+1+1-1 = 666 e... Voilá! (lê-se voalá) O Sr. Demétrio é a besta que havia de vir! O problema é que para 2000 anos atrás três dígitos eram suficientes como senha, porém para os dias atuais, com bilhões de pessoas e milhares de autoridades, 666 não é uma senha segura, podendo facilmente ser repetida entre muitas pessoas, não só para um homem como acreditava o autor de Apocalipse. A internet é uma prova disto, geralmente as senhas seguras envolvem no mínimo 8 dígitos com misto de letras e números, não devendo-se repetir dígitos. O número 666 tem sua origem na supersticiosa numerologia pagã, onde o 6 representava a imperfeição ou o mal. Além de o simbolismo permitir múltiplas ocorrências, aumentando a probabilidade da “profecia” se parecer com algum fato real, também permite a ocultação de prognósticos falsos, pois, se os símbolos não se parecem a nenhum fato real os erros permanecem ocultos.

III – Omissão de Nomes e Datas

Aí um ponto infeliz das profecias bíblicas, sua omissão de nomes e datas. Fica fácil prever o futuro sem precisão ou para um futuro distante onde ninguém estará vivo para comprovar seu cumprimento ou falha. É lógico que os profetas bíblicos não arriscariam por em dúvida a autoridade das divindades que representavam e, principalmente, não arriscariam por o pescoço a prêmio caso suas profecias falhassem enquanto vivos, por isso nunca utilizavam datas e nomes.

IV – Fraudes

Mas o que dizer de profecias como a estátua de metais de Daniel, dos pais contra filhos e filhos contra pais, do surgimento dos falsos profetas, etc.?

Por mais diversas que pareçam, todas as profecias têm explicações naturais e a mais comum é a fraude. A profecia da estátua de metais de Daniel foi escrita muito depois do que tradicionalmente se acreditava, em torno do século II a.C. – depois de já terem passados os três primeiros impérios e estar vigente o romano – enquanto o autor queria que se acreditasse que havia sido escrita no século VI a.C., estudos arqueológicos e linguísticos publicados a partir da década de 1970 provaram a fraude (ver postagem Estátua de Metais). Profecias como a que “previu” os pais entregando filhos e filhos entregando os pais em perseguições aos cristãos foram enxertadas na Bíblia após as perseguições dos três primeiros séculos, quando o Novo Testamento foi reescrito no século IV d.C. (ver postagem “O Novo Testamento e Michael Jackson”). O surgimento de falsos profetas (pregadores enganando o povo em nome de Jesus para ganhar dinheiro) como o bispo Edir Macedo, um dos donos da Rede Record de TV usada para lavagem de dinheiro da IURD, não é nada novo, já no tempo dos apóstolos esses falsos mestres e profetas se manifestavam (I Timóteo 6.3-5). Dizer que o surgimento deles é um sinal de que hoje são os dias do fim não é coerente e, possivelmente, Paulo escreveu sobre estes porque acreditava que o fim era em seu tempo conforme previu falhamente Jesus (ver postagem “Equívoco de Jesus Sobre Sua Volta”). Onde há ser humano, há fraudes, na religião não é diferente, eram tão frequentes no passado quanto se vê hoje.

V – Ignorância Popular

Muitos créditos recebidos pelas profecias bíblicas têm sua origem na ignorância popular. Profecias referentes aos fenômenos naturais como terremotos, fomes e guerras, são previsões do óbvio que não necessitam de qualquer ajuda divina. Terremotos têm sua origem na deriva continental que separou a Pangéia nos continentes hoje conhecidos e sua frequência e intensidade são estáveis há pelo menos 200 milhões de anos. Acreditar que a Bíblia prevê algo novo nessa área não é aceitável para pessoas de nosso tempo com acesso a vasto conhecimento. Fomes em larga escala também são uma constante na história da humanidade, a própria Bíblia cita que o Egito de José foi um celeiro para um mundo faminto muito antes da era cristã (Gênesis 41.56,57). Previsões sobre um mundo em guerra é reinventar a pólvora e sair ingenuamente divulgando. Desde que os romanos criaram correios eficientes, apoiados pelas muitas novas estradas, ter acesso a notícias mais distantes, como sobre as guerras, tornou-se mais fácil. Essa nova situação fez com que os escritores neotestamentários tivessem a impressão que as desgraças humanas estivessem aumentando, quando na verdade estavam tornando-se mais conhecidas. Um dos maiores motivos que formaram todas as civilizações, confirmadas por muitas evidências materiais arqueológicas, são as guerras, inclusive o título “história universal” poderia facilmente ser alterado para “história da guerra”, nada novo ou que necessite de profecias. A ignorância sempre foi e sempre será o maior mal da humanidade, nela as religiões e seus fundadores apostaram e continuarão apostando.

Mas o que pouco se divulga são os erros proféticos crassos cometidos pelos escritores bíblicos, inclusive alguns que tornam o cristianismo completamente nulo, sem sentido para os dias de hoje. Alguns deles são: (1) A profecia do retorno de Jesus que deveria se cumprir no primeiro século, (2) o domínio militar do messias não cumprido em Jesus conforme previa o Velho Testamento e (3) a morte de um terço da humanidade por animais selvagens. Ironicamente tais animais estão sendo dizimados pela ação humana. É importante observar também que profecias cujo cumprimento é testemunhado somente pela própria Bíblia não merecem crédito, seria como um réu sendo sua própria testemunha e seu próprio juiz. Os profetas sempre se apoiaram na ingenuidade e falhas de percepção humanas. Nunca houve profecias cristãs, judaicas ou de quaisquer outras religiões livres de uma ou mais destas características: Indução psicológica, simbolismo, omissão de nomes e datas, fraude e apoio na ignorância popular.

-por Jonas ACS.

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