On terça-feira, 15 de junho de 2010


Sabe, às vezes eu me pego me sentindo extremamente orgulhoso de ser um “outspoken atheist”, um ateu convicto e franco. E, claro, me sinto um pouco culpado por tal, pois isto me faz pensar, às vezes, se eu não fico às margens daquilo que eu tanto rejeito: o fundamentalismo religioso ou de crença.

Pois bem, é perigoso ser fundamentalista em praticamente qualquer coisa. Digo praticamente, porque eu acho que uma pessoa que seja fundamentalista em humanismo não é uma pessoa perigosa. Nem uma que seja fundamentalista em ceticismo, ou uma que seja fundamentalista em igualdade social. O fundamentalismo se manifesta de forma danosa quando é contra certos direitos fundamentais, aqueles que nós, humanistas seculares, geralmente defendemos em qualquer circunstância, para qualquer ser humano.

Estas frases de impacto, sobre orgulho ateísta e moralismo humanista, mesmo pra mim, soam como um pouco de fundamentalismo. E eu confesso ter um pouco de receio e relutância de citar minhas divagações sobre elas. Porém, é preciso ser um pouco crítico sobre o que pode ou não ser interpretado como puro orgulho ou como puro fundamentalismo perigoso.

Vejamos, eu prefiro ver que o fundamentalismo religioso, em si, que leva pessoas desde a morte suicida até ataques verbais ferrenhos contra “infiéis”, é um fundamentalismo danoso. Por que? Bem, porque o fundamentalismo danoso pode ser definido como sendo aquele que agride o direito de outrem. Invade o espaço de livre pensamento ou a simples diferenciação entre credos. O fundamentalismo danoso pode ser definido como sendo aquele que não respeita somente as diferenças, mas também aquele que exime, senão proíbe, as pessoas de pensamento crítico ou força-as a uma visão binocular do mundo.

O “fundamentalismo ateísta”, se o chamarmos assim, me preocupa a priori. Em uma primeira análise, temo o paralelo que o orgulho ateísta pode ter com o fundamentalismo religioso. Porém, o ateísmo promove outro produto, outras “crenças”, assim por dizer: o ceticismo; o humanismo secular; o livre pensamento e escolha; a isenção da culpa inata; o moralismo empírico, e não absoluto. A meu ver, estes são fundamentos que não soam danosos, pelo contrário, oferecem às pessoas que decidem optar pelo ateísmo uma porta para uma sala ampla de infinidades, e não uma portinhola para um corredor estreito de figuras carimbadas na parede.

Será que ser um ateu orgulhoso de tal é algo ruim? Será que falar aos quatro cantos que o ceticismo e a razão te libertaram é um orgulho bobo? Não. Sejamos mais orgulhosos de nossa libertação. Ela não nos foi dada de lambuja, como no caso de outras mitologias que acreditam na salvação tão e somente por fé. Ela veio às custas de muito trabalho mental. E ela não nos ensina intolerância, agressividade, moral absoluta imutável, juízo supremo, obediência ao etéreo. Ela nos ensina bem estar consigo mesmo, e respeito para com os outros. Ela nos ensina, acima de tudo, que não há mal em simplesmente ser humano, simplesmente existir, simplesmente aceitar a condição de ser natural que nos é primariamente evidente.

Bom, talvez eu seja só um ateu fundamentalista. Mas afinal, que mal tem?

Camisas Vero

1 comentários:

Louis~ disse...

O fundamentalismo ateísta só se torna perigoso quando vc esquece da liberdade do outro de crer naquilo que ele quer e começa a forçar seu jeito de ser/ver/pensar a fim de mudar os conceitos sem que sua opnião tenha sido requisitada . Esse mesmo conceito pode ser aplicado inversamente aos religiosos .
Do meu ponto de vista , 'fundamentalismo' é uma palavra que ganhou aspecto muito negativo e talvez não devesse ser usada para se referir a uma crença ou modo de pensar porque parece que implica que aquilo em que vc acredita é a verdade absoluta e irrefutável ( até que alguém consiga te convencer do contrário , e muitas vezes as pessoas não estão abertas para serem convencidas ) . Pessoalmente eu não usaria 'fundamentalismo' ou a usaria com MUITA cautela de forma muito sistemática e muito bem embasada para não ser mal interpretado .

Uma pessoa que é fundamentalista em igualdade social , em primeira instância , é um infeliz porque acredita num 'ideal' que não pode existir por si só , atrelado à 'igualdade social' existem muitas coisas que precisariam ser resolvidas para que essa igualdade possa existir . Mesmo se essa 'igualdade social' pudesse existir , ainda existem diferenças individuais , que tornam as pessoas mais ou menos aptas que outras , diferenças econômicas e assim por diante . . . No fim das contas , se todos partissem de um ponto onde tivessemos igualdade social , chegaria uma hora em que não seria possivel manter essa igualdade . Por exemplo , 'todos têm direito ao estudo e à saúde' mas nem todos podem pagar por isso , consequentemente alguém TEM que pagar para que os que não possuem condições financeiras possam usufruir de estudo e saúde .
Um fundamentalista humanista provavelmente iria bater de frente com diversas culturas no mundo , julgando aspectos de determinadas culturas como sendo 'inumanas' .
Bom acho que deu pra ter uma idéia do que eu queria dizer . . .

Postar um comentário

Antes de postar, conheça as "Regras", por favor.