A cada ciclo de eleições, eleitores levantam as posições morais dos candidatos. O público quer saber como os pontos de vistas dos candidatos combinam com os seus próprios. Algumas questões políticas parecem ter se tornado marcos do debate moral, como a pesquisa com células-tronco, o aborto e o casamento gay. Outras questões, como política exterior e guerra, podem parecer meramente políticas, mas há bases morais também presentes. Por exemplo: o candidato mandaria bombardear uma cidade inimiga se seu ou sua filha estivesse baseado lá? O candidato consideraria que as pessoas servindo lá pertencem a alguém? Que cada soldado é o pai ou a mãe de alguém, o filho ou a filha de alguém, o marido ou a mulher de alguém?
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Manipulação
Estudo sugere que o julgamento moral de uma pessoa pode ser alterado por meio da manipulação de uma região específica do cérebro.
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Com algum esforço de imaginação, então, não é tão irracional perguntar a um candidato se ele ou ela asfixiaria um bebê até a morte. Pode parecer abominável colocar tal questão, mas vamos explicar. Imagine que nós estamos na guerra e um grupo de pessoas está se escondendo do inimigo em um porão. Os inimigos estão no andar de cima, vasculhando a casa atrás de dissidentes, quando o bebê no porão começa a chorar. O bebê deveria ser asfixiado até a morte? Se o bebê for silenciado, todos do grupo sobreviverão. Se o bebê continuar chorando, os inimigos irão encontrá-lo, e todos do grupo morrerão, inclusive o bebê.
Você pode ser capaz de entender racionalmente como é melhor sacrificar o bebê pelo bem do grupo, mas você seria aquele que colocaria a mão sobre a boca da criança? Você quer um presidente que seja capaz de fazer isso? Na verdade, nós podemos não ter muita escolha nessa questão, se acreditarmos em alguns pesquisadores. Apesar de a moral estar há muito tempo no domínio dos filósofos, teólogos e pessoas que fumam maconha, os neurocientistas aproveitam a definição de certo e errado. E de acordo com alguns deles, existe uma razão muito simples para o por que de candidatos à presidência responderem questões de cunho moral da maneira como eles respondem. Como você pode adivinhar pelo título deste artigo, é culpa daquele órgão que os zumbis adoram comer: cérebros. O que se passa dentro do cérebro quando deparamos com um dilema moral? E se a moral de cada pessoa é diferente, pode o conceito ser reduzido a um ponto no cérebro?
Como você escolhe? Dilemas morais e o cérebro
Em 2001, uma equipe de pesquisa liderada pelo filósofo e neurocientista Joshua Greene lançou uma tese detalhando o trabalho de usar a ressonância magnética funcional para rastrear os cérebros de pessoas brigando com dilemas morais. Greene e sua equipe queriam ver se havia conflito entre as áreas do cérebro que lidam com emoções e aquelas que lidam com a razão.iStockphoto Você asfixiaria uma criança até à morte pelo bem maior? A resposta depende do seu senso de moral |
Em seguida os participantes foram apresentados a um dilema no qual eles não teriam de "sujar as mãos". A mesma pessoa morreria, mas outro a mataria. Ou a tarefa poderia ser delegada a outro. Neste cenário, apenas a parte racional do cérebro estava ativa na ressonância. Quando as pessoas não tinham de lutar com suas emoções sobre como elas se sentiriam se fizessem alguma coisa, elas simplesmente completavam a análise prática do que era melhor para o grupo.
iStockphoto Você asfixiaria uma criança até à morte pelo bem maior? A resposta depende do seu senso de moral |
Houve grandes coincidências nas respostas dos grupos a certos cenários. Em situações que não exigiam escolha moral, cada um dos grupos respondeu da mesma maneira. Quando perguntados sobre os cenários que exigiam tomar decisões morais que não machucavam ninguém, como se seria OK classificar algumas despesas pessoais como despesas de trabalho para fugir do fisco, os grupos estavam propensos a quebrar as regras um pouco. Membros de todos os grupos concordaram que eles não matariam ou machucariam outra pessoa para ganho pessoal, como matar um recém-nascido simplesmente porque seu pai não queria tomar conta dele. Mas a diferença entre os grupos foi evidente em relação a decisões morais que exigiam que o participante decidisse se ele machucaria ou mataria outra pessoa para o bem maior. Aqueles com dano no córtex prefrontal ventromedial foram cerca de 2 a 3 vezes mais propensos a sacrificar uma pessoa pelo bem do grupo [source: Saletan].
Parece então que quando a parte do cérebro que regula emoções como empatia e vergonha está danificada, as pessoas são mais propensas a considerar apenas a análise do custo-benefício para o bem maior. Mas alguns estão preocupados com as eventuais implicações de tal descoberta. Saber que o cérebro está danificado dessa maneira poderia ter algum impacto nos casos criminosos? O "córtex prefrontal ventromedial danificado" poderia tornar-se uma desculpa comum no tribunal?
Isso pode parecer improvável, porque diferentes culturas consideram diferentes coisas como crime. Se o senso de moral está programado no cérebro, então porque todos nós temos morais diferentes? Vá para a próxima página para conhecer algumas teorias.
Os sistemas morais em todos nós
Nós podemos atribuir diferenças de como as pessoas percebem a moral a influências culturais ou formação religiosa. Mesmo assim, alguns cientistas alegam que a moral em todos nós está totalmente em nossos cérebros e é meramente formada por forças externas. Um desses cientistas é Marc Hauser, que explora assuntos como antropologia e linguística para mostrar que a moral estava aí antes das primeiras religiões.A antropologia entra em jogo quando você considera que primatas como macacos e símios exibem comportamentos associados à moral, como renunciar ao alimento caso o contrário machucasse outro primata [fonte: Wade]. Embora nós não saibamos a motivação dos primatas, eles podem servir como um modelo de como a moral é necessária para a vida comunitária que o homem aperfeiçoaria. Mas o salto real de Hauser se deu ao ligar o conceito de moral ao conceito de linguagem.
iStockphoto O senso de moral é diferente entre as diferentes culturas |
- Impedimento de causar danos a uma pessoa
- Reciprocidade e justiça
- Lealdade a um grupo
- Respeito pela autoridade
- Senso de pureza e santidade
É possível que esses sistemas inatos possam ter servido como uma vantagem evolutiva. Por exemplo, um senso de pureza pode acontecer quando deparamos com decisões de quem fez a melhor parceria e que alimentos são melhores para comer. Além disso, encontrar um grupo que pense da mesma maneira que você ajudaria sua sobrevivência individual, porque o grupo o ajudaria em tempos de necessidade. O grupo como um todo também sobreviveria quando fortalecido pelos três últimos princípios.
Esses sistemas morais podem ser modelados por culturas diferentes, que é como as pessoas podem olhar para uma mesma situação e chegar a um conclusão diferente sobre ela. Nós temos todos os cinco sistemas, mas damos mais ênfase a um ou outro baseados em nossa criação. No caso de assassinatos de honra, em que uma mulher é morta por cometer adultério ou mesmo por falar em público com um homem que não seja o seu marido, algumas culturas do Oriente Médio veem claras violações pela mulher relacionadas às áreas de respeito à autoridade e senso de pureza, enquanto outras culturas ocidentais apenas veem a morte da mulher como um dano errado a uma pessoa.
Às vezes, diz Haidt, nós nem percebemos como nossa cultura treinou essas ideias dentro de nós. Isso porque o lado mais racional do nosso cérebro, o lado que acende nos experimentos com imagem de Joshua Greene, pode ter evoluído depois do lado emocional, que contém nosso senso de certo e errado. Esses sistemas do cérebro podem estar em competição, com o lado racional tentando descobrir por que o lado emocional está reagindo de certa forma. Quando o lado racional não pode descobrir o que o lado emocional fez, é chamado de confusão moral, de acordo com Haidt [fonte: Wade]. Às vezes não podemos explicar por que pensamos que alguma coisa é certa ou errada. Apenas sabemos que é.
Como você pode esperar, alguns filósofos ressentem-se da intrusão dos cientistas em seu território. Tanto cientistas quanto filósofos ainda têm de lutar com o que essas descobertas poderiam significar para nossos cérebros ou para a sociedade. Uma coisa que não requer luta, contudo, é a decisão de ir para a próxima página. Lá você vai encontrar mais informações sobre moral e sobre o cérebro.
6 comentários:
Gostei muito do artigo. Mágoa que normalmente se perceba a moral como alguma cousa 100% cultural sem a nada a ver com a nossa natureza intrínseca.
Quando poderemos ler estes autores em português?
Eu acho que a moral é como uma forma de sobreviver do ser humano, enquanto ser social, e acho que está realmente como sugere o artigo.
Hehehe e tem crente que jura de pé junto que a moral dele está na alma, e o coração é que pensa hahaha.
Será que ele passaria por uma lobotomia por exemplo e continuaria o mesmo ?
Eu acho que não.
http://noticias.bol.uol.com.br/ciencia/2010/06/11/cerebro-do-corrupto-pode-nao-reconhecer-certo-e-errado-mas-entende-punicao.jhtm para complementar.
Concordo. A esse respeito, eis uma entrevista com Paul Bloom sobre moral, religião e seleção natural:
http://pacienciasdeanimal.blogspot.com/2010/05/entrevista-paul-bloom.html?showComment=1276423616587_AIe9_BEdFfvc4YuZYsyf8-b5ESmLLb93nOsQgDy97eUuIsU3ITleFAOkC9W3e5Yk73d-jnAYahfExsGvZGa9t_q6cXWesWN-l26zRx3CaSmmkm6Rz46B21AKJXLqdfxNRmG6oij18nIAYqxzl-M5QS7xLxl1ZN0RomDPGn_PjNa-4JGCMoybzuAitw-6rUFZoYWw593HUlOxbLRS3XFaGqpMneYgQOJ6XK1InMSAYFNxZM2BFuXxekQ#c4713402782253969657
Gostei Léo muito 10 mesmo
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